Se você é um gestor bem antenado, já deve estar sabendo que novas mudanças no currículo escolar “pairam no ar”. É claro que estou falando da Política Nacional de Educação Digital, que foi aprovada em agosto de 2022 pela Câmara dos Deputados e agora está em análise pelo Senado Federal. O foco da vez é o desenvolvimento de competências digitais.
Surpresa zero, né? Afinal, a necessidade de fortalecer o vínculo entre educação e tecnologia está mais do que evidente nos dias atuais. Não há mais como tapar os olhos para essa realidade, concorda? Muito bem, então agora vamos entender direitinho o que é a Política Nacional de Educação Digital e que mudanças ela propõe para o ensino.
O que é a Política Nacional de Educação Digital?
A Política Nacional de Educação Digital é uma proposta que nasceu com o projeto de lei 4513/2020. O texto aprovado foi um substitutivo ao original, com alterações pontuais. A proposta gira em torno do desenvolvimento de competências digitais na educação básica desde o ensino fundamental – o que inclui o ensino de computação, programação e robótica – permitindo assim que todas as camadas da população tenham acesso a conhecimentos alinhados com as demandas de mercado atuais.
Se implementada, a Política Nacional de Educação Digital alterará a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Os ventos da mudança, porém, não balançarão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – que mais atual do que nunca – já traz em sua lista de competências a cultura digital.
Quais são os eixos da Política Nacional de Educação Digital?
A Política Nacional de Educação Digital se apoia em quatro eixos. São eles:
1. Inclusão digital
O primeiro eixo da Política Nacional de Educação Digital trata da garantia do acesso às tecnologias e aos conhecimentos digitais para todas as camadas da população. Dessa forma, todos devem ser capazes de se apropriar dos meios digitais para obter informações, comunicar-se com outras pessoas e trabalhar.
A aplicação efetiva desse eixo se dá com a promoção de ações voltadas a todas as camadas sociais da população, tais como:
- Criação de estratégias que visem sensibilizar os cidadãos para a importância das competências digitais, midiáticas e informacionais.
- Oferta de ferramentas online para autodiagnóstico de competências digitais, midiáticas e informacionais.
- Treinamento de competências digitais, midiáticas e informacionais com a inclusão de grupos de cidadãos mais vulneráveis.
- Facilitação para o desenvolvimento e o acesso a plataformas e repositórios com recursos digitais.
- Promoção de processos de certificação nas competências digitais.
- Implantação e integração de infraestrutura de conectividade com objetivos educacionais. Ela deve compreender a universalização da internet de alta velocidade e de equipamentos adequados para esse acesso em ambientes educacionais. Inclui-se nisso o acesso móvel para professores e alunos.
2. Educação digital escolar
O segundo eixo da Política Nacional de Educação Digital trata da oferta de educação digital à população. O intuito é estimular e reforçar o letramento digital e informacional; o ensino de computação, robótica, programação e outras competências digitais em todos os níveis de escolaridade.
O eixo contempla:
- Pensamento computacional – habilidade para a análise e solução de problemas de maneira metódica, para o desenvolvimento de algoritmos, entre outros.
- Mundo digital – aprendizagem sobre tecnologias digitais físicas (computadores, celulares, tablets) e virtuais (internet, redes sociais, armazenamento em nuvem).
- Cultura digital – ensino voltado para a participação consciente e democrática por meio de tecnologias digitais construindo uma atitude crítica, ética e responsável.
- Tecnologia assistiva – produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços para a participação de pessoas com deficiência ou incapacidades.
3. Capacitação e especialização digital
O terceiro eixo da Política Nacional de Educação Digital trata da capacitação da população ativa para a aquisição de conhecimentos necessários para um mercado de trabalho bastante dependente de profissionais com competências digitais. Ele busca promover a empregabilidade, o empreendedorismo, o pensamento crítico e inovador e o bem-estar individual e coletivo.
Algumas das estratégias para o desenvolvimento desse eixo são:
- Identificação das competências digitais necessárias para a empregabilidade. Isso ocorre de forma articulada com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e com o mercado de trabalho em geral.
- Consolidação do conteúdo para ensino e especialização digital. Isso se dá por meio de cursos online, vídeos e plataformas interativas.
- Qualificação para uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) e tecnologias habilitadoras. Isso se dá por meio de cursos oferecidos pela indústria.
- Promoção e divulgação de rede nacional de cursos de educação profissional e superior em competências digitais.
4. Pesquisa digital
O quarto eixo da Política Nacional de Educação Digital trata do estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento em um âmbito nacional, bem como a formação de parcerias internacionais para estudos conjuntos.
Entre as estratégias desse eixo estão:
- Criação nacional de um programa para o desenvolvimento de iniciativas avançadas de computação que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento em áreas como: inteligência artificial, mídia digital, computação científica, entre outras.
- Desenvolvimento de um programa de parcerias entre o Brasil e centros de ciência e tecnologia de grande relevância internacional para projetos direcionados ao surgimento de novas tecnologias e aplicações digitais.
- Interações com países atlânticos para estudar as interações entre clima, energia, atmosfera, oceanos, entre outros. Para isso, seriam empregadas tecnologias digitais e sistemas espaciais.
- Capacitação de novas gerações de pesquisadores nas competências digitais e socioemocionais necessárias ao trabalho científico colaborativo destinado à difusão do conceito de “Ciência Aberta”.
O que justifica a necessidade da Política Nacional de Educação Digital?
A Política Nacional de Educação Digital atende a diversos objetivos. Dentre eles é possível destacar:
-
Preparar os alunos para o mercado de trabalho
Existe um descompasso entre o ritmo de evolução do ensino brasileiro e o das novas demandas do mercado de trabalho. Enquanto que dados do censo escolar 2021 dão conta de que cerca de 25% das escolas do país não têm acesso à internet, dados do mundo corporativo – na outra ponta – dão um vislumbre do impacto disso no futuro.
Conforme o relatório The future of Jobs (O futuro do trabalho, em tradução livre), do Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças que entram na escola hoje trabalharão em profissões que ainda não foram nem inventadas. Se você está com alguma dúvida sobre a necessidade de tecnologia nessas novas profissões, não tenha. Um levantamento realizado pelo LinkedIn – a maior rede profissional do mundo – revelou que das 10 profissões com demanda crescente no Brasil, nove estão ligadas à tecnologia.
Sabe no que essa disparidade resulta? Em profissionais desempregados de um lado enquanto há escassez de profissionais qualificados de outro, como os dados evidenciam. Com isso, algumas empresas se veem obrigadas a contratar profissionais de fora enquanto que outras desaceleram seu ritmo de crescimento por falta de mão de obra qualificada.
Existe uma ponte para contornar esse abismo, e ela se chama educação. Porém, não estamos falando de uma “corrida de 100 metros”, e sim de uma maratona. Ela precisa iniciar lá de baixo, do ensino fundamental. A Política Nacional de Educação Digital vai ao encontro desse objetivo.
-
Trazer aos estudantes conhecimentos necessários para o dia a dia na sociedade atual
O mundo do trabalho não é o único em que as competências digitais fazem falta. No dia a dia em sociedade essa necessidade também se revela, e de diversas maneiras. Ela é mais facilmente perceptível quando a falta desse conhecimento limita as ações do cotidiano – como fazer transações bancárias por app, chamar um serviço de transporte, pedir comida por delivery, usar o GPS do celular e fazer uma série de coisas que boa parte das pessoas faz cotidianamente.
Há outra faceta, porém, da necessidade desse conhecimento no dia a dia. As competências digitais incluem o letramento digital, que por sua vez também inclui o acesso, o processamento, o filtro e a avaliação crítica das informações disponíveis nos meios digitais. Em suma, trabalha com a habilidade do indivíduo de pensar por si mesmo, analisando as informações disponíveis, refletindo sobre elas e tirando as suas próprias conclusões, ao invés de simplesmente absorver tudo sem um julgamento crítico.
A Política Nacional de Educação Digital, mais uma vez, vai ao encontro dessas questões. Ela ajuda o estudante a se apropriar do mundo que o rodeia em vez de ser engolido por ele. Isso impactará em suas escolhas, seus relacionamentos interpessoais e sua visão de mundo.
-
Manter os alunos motivados com as aulas
A evasão escolar é um sério problema no Brasil, e a falta de interesse pelos estudos é um dos motivos que levam a ela. Muitas escolas ainda seguem o modelo de ensino no qual o professor fala e anota no quadro enquanto o aluno escuta e anota no caderno. Para crianças já nascidas em um mundo tecnológico, essa forma de aprendizado não é nada empolgante.
Aumentar a motivação dos alunos é um dos porquês de a Política Nacional de Educação Digital estar em tramitação. Afinal, um ensino cercado por inovação e que se conecte com a realidade do mundo fora da sala de aula estimula o interesse dos nativos digitais. Consequentemente, menos estudantes deixarão a escola por falta de interesse.
-
Reduzir desigualdades sociais
Capacitar estudantes de todas as escolas – sejam elas públicas ou particulares – e de qualquer localidade do Brasil na aquisição de competências digitais é uma ação que, no longo prazo, tem o potencial de reduzir as desigualdades sociais no país. Isso porque os estudantes de camadas mais pobres da sociedade também poderiam desenvolver essas competências que são tão requisitadas pelo mercado de trabalho e estar aptos a ocupar postos mais bem remunerados.
Como você deve lembrar, já citamos aqui que há uma demanda crescente de profissões ligadas à tecnologia e falta de profissionais qualificados para ocupar todos os postos de trabalho. Então, com a implementação da Política Nacional de Educação Digital, a equação seria resolvida, e não só por alunos vindos de escolas particulares, mas de todas elas.
-
Incentivar o empreendedorismo e a inovação
Dominar competências digitais não habilita o indivíduo apenas para trabalhar para alguém, mas também para, ele mesmo, ter ideias inovadoras e empreender em um campo que só cresce no país, que é o da tecnologia. Com isso, mais e mais empregos são gerados.
Além disso, ter mais pessoas empreendendo no ramo da tecnologia gera competitividade empresarial, que é propulsora da criatividade e da inovação. Também traz como resultado preços competitivos dos produtos finais, o que beneficia diretamente o público.
-
Capacitar os professores para a educação do século XXI
A Política Nacional de Educação Digital também inclui a capacitação de professores. Durante a pandemia eles tiveram que se virar para adquirir às pressas conhecimentos digitais que muitos não tinham para dar aulas online. Dominar competências digitais, porém, é importante não apenas em cenários críticos, mas também no dia a dia.
Professores com esses conhecimentos podem ensiná-los a uma quantidade enorme de alunos ao longo de sua vida produtiva. Podem também usar essas habilidades para agregar em diversas disciplinas, tornando as aulas muito mais ricas. A educação só sai favorecida.
Como a ClipEscola pode contribuir?
A ClipEscola desenvolve a Plataforma de Transformação Digital M3I. Ela contém soluções que permitem que instituições de ensino públicas e privadas possam acelerar sua maturidade digital gradualmente, colocando processos de diversas áreas da escola sob bases digitais.
Falando especificamente do ensino, temos um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) completo. Ele colabora para a aplicação de diversas metodologias ativas em sala de aula, permite o envio de materiais digitais de forma categorizada por disciplina, possibilita o envio e o recebimento de trabalhos com acompanhamento de status de entrega e muito mais! Veja todas as possibilidades do nosso AVA neste infográfico. Para conhecer todos os recursos da nossa plataforma de transformação digital, acesse este outro material.
Leia mais
– SAMR: o que é e como usar o modelo para aplicar novas tecnologias na escola
– 7 maneiras de utilizar a tecnologia para aumentar o rendimento dos alunos