A mulher, ao longo do tempo, teve que cavar o seu espaço. Diferentemente dos homens, para elas, o gênero era uma barreira de entrada. As que gravaram seus nomes na história tiveram que transpor o brilhantismo por entre as fissuras das portas do preconceito. Para provar que eram iguais, percorreram caminhos desiguais. Desafiaram a sociedade, a família, as regras e ousaram sonhar e pagar o preço de seus sonhos. Conheça algumas dessas personalidades inspiradoras na nossa lista de mulheres para estudar na escola!
1. Emmy Noether
1882 – 1935
Emmy Noether foi uma brilhante matemática e física alemã de origem judia. Ela revolucionou teorias sobre anéis, corpos e álgebra e é considerada hoje a criadora da álgebra moderna. Seu intelecto incomum foi capaz de provar dois teoremas que foram essenciais para a teoria da relatividade, de Albert Einstein. O próprio Einstein a declarou como a mulher mais importante da história da matemática.
Todas as enormes contribuições que Emmy deu aos campos da matemática e da física não chegaram até nós sem obstáculos. A primeira barreira a ser superada foi para a própria aquisição do conhecimento. Por ser mulher, ela não tinha autorização para estudar matemática na universidade. Porém, conseguiu assistir às aulas de forma não oficial devido à influência de seu pai, que lecionava lá. Anos depois, seu talento abriu portas para que se tornasse aluna oficial de outra universidade.
Na atuação profissional, as barreiras do gênero também apareceram. Em 1915 ela recebeu o convite para integrar o departamento de matemática de uma renomada universidade que já tinha estudado. Porém, não pôde ocupar um cargo oficial por ser mulher, e nem receber um salário. Então, durante quatro anos, deu aulas sem remuneração e com uma assinatura masculina em suas matérias. Após esse período, conseguiu começar a assinar suas matérias, mas só passou a receber remuneração após 1922.
2. Cora Coralina
1889 – 1985
Cora Coralina – pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas – é considerada uma das poetisas mais importantes da literatura brasileira. Seu trabalho é tão reconhecido que a própria casa em que ela morou foi transformada em museu após a sua morte, com direito a um busto dela em frente ao local. Seu nome também batiza uma biblioteca municipal goiana, que exibe a imagem da poetisa grafitada em sua estrutura.
Cora, porém, não viveu sobre o estrelato. Nascida em 1889, ela viveu a maior parte da vida como era esperado de uma mulher de seu tempo. Casou-se, teve quatro filhos e, quando o marido faleceu, trabalhou para sustentar a família. A profissão que exerceu na maior parte do tempo foi a de doceira.
A paixão pelas palavras, porém, sempre esteve dentro de Cora. Apesar de só ter cursado quatro séries do ensino fundamental, ela amava escrever, e começou a fazê-lo aos 14 anos. Seu primeiro livro, porém, só foi publicado aos 75, e a fama nacional só veio quando ela já estava beirando os 90 anos. Durante esse tempo, ela passou pelo processo de “perder o medo”, como falou, e realizou uma profunda transformação interior.
Cora Coralina não viveu sob os holofotes, mas seu nome e sua obra venceram o tempo e se perpetuam pelas gerações. Seus versos imortais retratam sobretudo a vida cotidiana do interior do Brasil, e em especial as ruas e becos históricos de Goiás.
3. Maria Quitéria
1792 – 1853
Maria Quitéria não era mulher de aceitar que lhe dissessem o que fazer. A baiana queria lutar na Guerra da Independência do Brasil, mas o exército não aceitava mulheres naquela época, e o seu pai também não concordava. Então, ela fugiu da fazenda do pai, cortou os cabelos, usou roupas e documentos do cunhado e se juntou ao regimento de artilharia disfarçada de homem.
Maria Quitéria foi descoberta pelo pai. Porém, a essa altura, sua disciplina, destreza com armas e habilidade de cavalgar não tinham passado despercebidas, e sua permanência foi defendida. Assim, ela conseguiu ficar e lutar, e teve sua atuação condecorada pelo Imperador D. Pedro I.
Hoje, Maria Quitéria é reconhecida como a primeira mulher a ingressar nas forças armadas e a defender o país em combate. Seu nome está no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria e frequentemente é comparada com Joana D’ Arc.
4. Virginia Apgar
1909 – 1974
Virgínia Apgar – médica norte-americana especialista em anestesiologia e obstetrícia – está nesta lista de mulheres para estudar na escola devido às suas enormes contribuições para a redução da mortalidade infantil. Ela criou a Escala Apgar ou Teste de Apgar, que avalia a saúde dos recém-nascidos nos primeiros minutos de vida. Essa avaliação é determinante para as medidas que são tomadas a seguir, e que reduzem a chance de mortalidade infantil.
Quando se formou em medicina, Virgínia inicialmente queria optar pela cirurgia, mas em uma época em que somente 4% dos médicos americanos eram do sexo feminino, ela foi convencida a optar pela anestesia, que era tida como uma especialidade inferior. Porém, Virgínia teve um desempenho impressionante, tornando-se a primeira professora de anestesia e chefe de serviço do Columbia Presbyterian Hospital.
Seu método pioneiro, a Escala Apgar, hoje é adotado em todo o mundo. Uma outra contribuição relevante de Virgínia foi durante a epidemia de rubéola nos anos 60, que gerou uma onda de bebês nascidos com anomalias na Europa e EUA. Nesse contexto, Virgínia atuou como porta-voz universal da vacinação.
5. Marie Curie
1867 – 1934
Marie Curie foi uma física e química brilhante. A polonesa naturalizada francesa possui dois prêmios Nobel, um em física e outro em química. Foi a primeira mulher a ser contemplada com um prêmio Nobel e faz parte da seleta lista de cinco pessoas no mundo que já o receberam duas vezes.
A cientista deixou muitas contribuições ao mundo. Entre elas estão a descoberta, em conjunto com seu marido, de dois elementos da tabela periódica: o polônio e o rádio. A dupla também descobriu que esses elementos têm maior radioatividade do que o urânio. Durante a Primeira Guerra Mundial, Marie também desenvolveu aparelhos de radiografia portáteis. Acredita-se que eles tenham ajudado mais de um milhão de soldados feridos.
Todo o legado de Marie Curie, no entanto, não chegou até nós sem obstáculos de gênero. Quando terminou o colegial, ela não conseguiu estudar na Universidade de Varsóvia, que não aceitava mulheres. Dois anos depois, se mudou para Paris, onde conseguiu estudar. Durante a carreira, Marie era constantemente observada por jornalistas, que tentavam descobrir se ela estava conseguindo conciliar a carreira com o seu papel de “mulher”.
Outro momento em que Marie enfrentou obstáculos de gênero foi quando ela não conseguiu uma cadeira na Academia de Ciências, que não aceitava mulheres. A cientista, que vivia em um universo massivamente dominado por homens, muitas vezes precisou publicar artigos com um pseudônimo masculino, para ter credibilidade. Hoje, Marie Curie tem um grande reconhecimento e foi a primeira mulher a ser sepultada no Panteão de Paris por seus próprios méritos.
6. Nise da Silveira
1905 – 1999
Nise da Silveira é a mulher que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil. Aluna de Carl Jung, a médica psiquiatra conseguiu mudar os métodos empregados em instituições psiquiátricas do país, substituindo processos como lobotomia, eletrochoques, insulinoterapia e outros tratamentos invasivos e agressivos por métodos mais humanos, como trabalhos artísticos e interações com animais.
A médica pioneira e com reconhecimento mundial por sua contribuição antimanicomial foi uma das primeiras mulheres a se graduar em medicina no país. Em sua turma – que se formou em 1926 na Faculdade de Medicina da Bahia – ela era a única mulher entre 157 homens.
Entre o legado que Nise nos deixou também está a introdução da psicologia Jungiana no Brasil e a criação do Museu de Imagens do Inconsciente, que possui cerca de 350 mil obras de pacientes com transtornos mentais que passaram por tratamento de arteterapia. As pinturas não são apenas objetos de contemplação, mas também de estudos, pois ajudam a compreender melhor a mente com algum tipo de transtorno.
7. Maria da Penha
1945 –
Mais do que uma mulher, Maria da Penha é um símbolo. Ela simboliza a luta contra a violência doméstica no Brasil. A farmacêutica cearense sobreviveu a essa violência e lutou para que seu marido não ficasse impune. Sua luta trouxe repercussão ao caso, e resultou na lei que leva o seu nome, sancionada em 2006. A Lei Maria da Penha reconhece a gravidade da violência doméstica contra a mulher e prevê uma punição adequada.
Maria da Penha – que hoje convive com a paraplegia devido às agressões que sofreu – continua lutando por um mundo mais seguro para as mulheres. Ela lidera movimentos de defesa dos direitos das mulheres é a fundadora da ONG “Instituto Maria da Penha”, que desenvolve diversos projetos para gerar reflexão, promover mudanças e realizar ações para inibir, punir e erradicar qualquer violência de gênero.
8. Vera Rubin
1928 – 2016
Vera Rubin é uma astrônoma norte-americana que colocou seu nome na história por confirmar a existência da matéria escura – uma substância capaz de manter as galáxias agrupadas. Acredita-se que 23% do universo seja constituído dessa matéria.
A astrônoma, ao longo da carreira, conduziu diversos estudos pioneiros sobre as curvas de rotação das galáxias espirais. Ela percebeu a discrepância entre o movimento angular previsto e o movimento observado nas galáxias, fenômeno conhecido como “o problema de rotação das galáxias”.
Como mulher, Vera Rubin já teve portas fechadas, como a do programa de pós-graduação de Princeton, no qual tentou se matricular, mas nunca obteve resposta. Na época, mulheres não eram aceitas. Já no Observatório Palomar, na Califórnia, ela foi a primeira a quebrar a barreira do gênero. Conseguiu a permissão – até então inédita para mulheres – para acessar as instalações e utilizar os instrumentos do local.
9. Maryam Mirzakhani
1977 – 2017
Maryam Mirzakhani foi uma matemática iraniana de notório intelecto. Em seu curto tempo de vida (faleceu com 40 anos), deixou um legado ao mundo que a permitirá viver mais do que o seu corpo e o seu tempo. Suas grandes contribuições à dinâmica e à geometria de superfícies de Riemannn e seus espaços módulos lhe renderam a Medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática.
Maryam foi a primeira mulher a receber a premiação, e até hoje, somente duas mulheres no mundo já a receberam. Esse pioneirismo, porém, não foi uma novidade para a iraniana, que também foi a primeira pessoa do gênero feminino a receber a medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática, em 1994. Como se não fosse o bastante, a recebeu novamente no ano seguinte.
Incrivelmente, a matemática não foi a primeira paixão de Maryam. Quando criança, seu sonho era ser escritora. Os números começaram a fisgá-la quando o seu irmão aguçou o seu interesse. Esse fascínio continuou a ser cativado posteriormente por um professor do ensino fundamental. Daí em diante, a matemática ganhou seu coração para toda a vida.
10. Katherine Johnson
1918 – 2020
Katherine Johnson foi uma matemática, física e cientista da NASA. Seu talento inegável em realizar cálculos – em especial os de trajetórias de voos – permitiu que ela conseguisse protagonizar uma carreira de sucesso na agência espacial, mesmo tendo de lidar com preconceitos de gênero e de cor.
Antes de trabalhar na NASA, Katherine tinha interesse em trabalhar com pesquisa na área de matemática, mas se deparou com muitas portas fechadas por ser uma mulher negra. Por isso, trabalhou como professora até passar no processo seletivo da Agência Espacial Norte-Americana.
Na NASA, Katherine trabalhou em regime de segregação racial nos primeiros anos de sua carreira, fazendo suas funções, comendo e usando banheiros separados dos brancos. Porém, seu talento a fez ser vista e ouvida. Ela chegou a participar de reuniões editoriais nas quais nenhuma mulher tinha participado antes. Aos poucos, seu brilhantismo foi derrubando barreiras.
Ao longo dos 33 anos em que trabalhou para a NASA, Katherine deu grandes contribuições para a aeronáutica e para a exploração espacial. A precisão de seus cálculos de navegação e seu pioneirismo em ciência espacial e computação lhe permitiram calcular trajetórias, janelas de lançamento e caminhos de retorno de emergência para muitos voos do Projeto Mercury e do Apollo – incluindo a missão Apollo 11, que levou o homem à Lua.
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