O ano de 2016 acabou, mas deixou “heranças” para a educação brasileira. A maioria delas são questões em aberto, e ainda que não venham a ser definidas de forma irreversível, servem para conduzir o debate público. O panorama econômico continua delicado, o que torna urgente a definição de prioridades. Entenda quais fatores não podem ser deixados de lado na hora de pôr em prática o planejamento escolar para 2017.
1 – Novo Ensino Médio?
Poucos discordam que o ensino médio precisa mudar. Enquanto o Exame Nacional que avalia essa etapa do ensino passou por profundas transformações nos últimos anos, a formação em si continua sendo “remendada”, sem um parâmetro central que indique em que sentido a evolução deve ocorrer. Além do conteúdo há o questionamento da forma: será que é possível alterar algo com profundas raízes culturais na base da “canetada”?
Entre os pontos polêmicos da proposta de reforma encaminhada pela presidência está o ensino integral. Tanto para as escolas públicas quanto para as privadas, aumentar a carga horária sem crescimento das receitas faz com que as contas simplesmente não fechem. Mas ainda há de se pensar que se a imposição vier, virá para todos igualmente e a única forma de se diferenciar e continuar sendo a escolhida pelos pais será por meio do planejamento.
Outra maneira de “suavizar” as mudanças é já ir disponibilizando atividades no contraturno, para ir habituando alunos e responsáveis à rotina e aos investimentos. Ensino de idiomas, empreendedorismo, programação e robótica, esportes e modalidades artísticas são alguns dos complementos que podem ampliar a formação com ótimos resultados.
2 – Inteligência financeira e consumo consciente
Há pelo menos dois aspectos para essa tendência: o primeiro relacionado à educação financeira e o segundo à sustentabilidade das próprias escolas. Se por um lado é preciso fazer os pais entenderem as justificativas para o reajuste da mensalidade, por outro, plantar as sementes do controle das finanças pessoais desde cedo pode criar uma cultura de valorização dos investimentos e até mesmo de empreendedorismo.
De acordo com pesquisa do Sinepe RS, as escolas privadas gaúchas devem ter um reajuste médio de 11,5% nas mensalidades. Nem todos os responsáveis pelos alunos compreendem imediatamente que dessa receita depende a qualidade dos serviços educacionais prestados, assim como a implementação de melhorias.
Uma maneira simples de demonstrar o retorno dos valores aplicados pelos pais é fornecer uma novidade no ano que começa que realmente faça a diferença na vida e no ensino. Um aplicativo de comunicação que disponibilize as informações do andamento das atividades pode ser a chave para demonstrar esse valor e ao mesmo tempo manter todo mundo ligado no que mais está rolando na escola.
3 – Gamificação
Conforme infográfico desenvolvido pelo pessoal do Bhbit, o termo gamificação refere-se ao “uso de mecanismos de jogos orientados ao objetivo de resolver problemas práticos ou despertar o engajamento em um público específico”. Parece bem compatível com os desafios enfrentados na sala de aula, não é mesmo?
A adoção da gamificação na educação é em parte um caso de “se não se pode vencê-los, junte-se a eles”. Se é tão difícil competir com os jogos, ainda mais com a facilidade de acessá-los trazida pelos smartphones, o negócio é tirá-los da “clandestinidade” e torná-los instrumentos de envolvimento, fixação e desenvolvimento de habilidades, estimulando também a cooperação e a competição saudável.
4 – Base Nacional Curricular Comum
Nem todo mundo sabe, mas a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionada em 1996, já previa uma “base nacional comum” para os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio. No entanto, as discussões para materializar esse documento essencial só se iniciaram em 2015 e foram bastante afetadas pelas agitações políticas.
O novo cronograma prevê que a terceira e última versão do texto, para os ensinos infantil e fundamental, seja apresentada em fevereiro deste ano. Existe a expectativa de que o projeto contenha em si outra tendência educacional que tem ganhado muito destaque recentemente: o desenvolvimento de competências socioemocionais.
Se a previsão for confirmada, escolas que já possuem programas de inteligência emocional vão sair na frente, ganhando competitividade e servindo de exemplo para as demais. A ideia é que tendo suporte de uma estrutura psíquica adequada, os conteúdos serão muito melhor aproveitados.
5 – Sala de Aula Invertida
No modelo tradicional, os estudantes ouvem o professor na escola e fazem os deveres em casa. Na proposta didática da sala de aula invertida – do inglês Flipped Classroom – o conteúdo é assistido em casa ou em dispositivos móveis no formato de vídeos curtos e os encontros presenciais servem para aplicar o conhecimento adquirido.
Precisa ouvir novamente a explicação? É só voltar o vídeo. Pegou de primeira e quer se aprofundar? Os links estão embaixo. Dificuldades na tarefa? O professor e os colegas estão lá para ajudar.
Entre os diversos argumentos que os autores americanos Jonathan Bergmann e Aron Sams apresentam para “virar a sala de aula de cabeça para baixo” está a ideia de que se a parte expositiva da lição é explorada em casa, isso dá oportunidade para que os pais participem mais e também aprendam. Nós apoiamos!
6 – Perspectivas do Ensino Superior
Assim como no caso no ensino médio, muitas incertezas pairam sobre a educação superior. A diferença é que elas estão mais relacionadas a aspectos materiais, de sustento, do que a questões pedagógicas propriamente ditas, ainda que inconsistências de conteúdo e qualidade tenham contribuído para fragilizar a situação.
A única afirmação segura a se fazer em relação a esse tópico é que não é possível voltar no tempo. As portas da formação acadêmica foram abertas e não há como ignorar a expectativa criada na população pelo título especializado. É preciso, portanto, encarar realisticamente as opções de custeio dessas atividades.
De acordo com o Ministro da Educação, o Fies vai oferecer em 2017 pelo menos o mesmo número de novas vagas do que em 2016, ou seja, no mínimo 220 mil. Atualmente, cerca de 1,5 milhão de estudantes cursam graduação em instituições privadas no Brasil por meio do programa.
A modalidade de ensino superior com a melhor previsão de crescimento para 2017 – 3,8% – é a de cursos a distância. Além de oferecerem mensalidades mais atrativas, com a diminuição dos custos em relação ao formato presencial, esse tipo de formação tem ganhado destaque pelo uso da tecnologia, com a apropriação das melhores ferramentas didáticas.
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