A forma de se fazer educação está mudando. No século XXI, velhas certezas vêm sendo derrubadas e novas possibilidades de ensino surgem à luz dos avanços tecnológicos, descobertas e transformações culturais. Entre as mudanças está o próprio papel do estudante em relação ao aprendizado. Hoje se entende que a ele não cabe mais o papel de coadjuvante em sala de aula. Uma forte tendência na educação é a do “aluno protagonista”.
O que é aluno protagonista?
Aluno protagonista é o conceito no qual o estudante desempenha um papel ativo na construção do próprio aprendizado. Ele não apenas absorve conteúdos, mas também agrega. Pesquisa informações, expõe ideias, debate, cria. É um cenário no qual o estudante é um aliado na busca pelo conhecimento, pois a escola o motiva a persegui-lo e compô-lo em conjunto com o professor e com os colegas.
Quais as vantagens?
Se você é um professor antenado com as tendências educacionais, já deve ter percebido que trazer o aluno para o lado do aprendizado é uma “grande sacada”, certo? Imagino que as vantagens já estejam pipocando na sua mente, mas vou te ajudar a materializá-las! Confira algumas delas:
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Eficiência no aprendizado
Sim, o aluno protagonista aprende mais do que o coadjuvante. Prova disso é que as atividades associadas ao protagonismo – como debate, prática, interpretação, expressão, elaboração, entre outras – são capazes de proporcionar um aprendizado de 70 a 80%, conforme a Pirâmide de Aprendizagem de William Glasser. Já as práticas associadas ao aprendizado passivo – como ler, escutar e ver – conseguem alcançar um aprendizado entre 10% e 50%.
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Desenvolvimento de responsabilidade e autonomia
O aluno protagonista acaba desenvolvendo naturalmente mais responsabilidade e autonomia, já que não existe a opção de ele apenas sentar em frente ao professor de forma estática, talvez absorvendo a informação, talvez divagando. As atividades didáticas, quando trabalhadas visando o protagonismo, exigem ações práticas. Isso obriga o estudante a “correr atrás”, pesquisando por conta própria e buscando soluções e argumentos.
Nesse contexto, o rendimento do aluno não é evidenciado apenas por uma prova, mas pelo dia a dia em sala de aula. Não há uma zona de conforto à qual ele possa se refugiar até o dia dos testes, pois é chamado à ação todo dia. E para poder debater, expor ideias e criar, o aluno se força a buscar informações, formular argumentos e “se mexer”. Acaba criando assim responsabilidade com o próprio aprendizado e autonomia no processo de construção dele.
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Criatividade
Ser um aluno protagonista é algo que exige criatividade. Essa característica é explorada à exaustão quando a escola adota dinâmicas que trabalham o protagonismo. As atividades exigem que o estudante pense “fora da caixa”, pois a resolução dos problemas não é encontrada ao final de um caminho previsível.
As atividades que têm foco no protagonismo requerem que o estudante faça escolhas, passe por situações de tentativa e erro, gerencie o tempo para a pesquisa e execução da tarefa, corrija rotas e busque inspirações. Tudo isso, se for uma constância ao longo da vida escolar do estudante, favorecerá que ele se torne um dia um profissional com alto poder criativo e com capacidade de buscar soluções aonde ninguém mais vê.
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Criação de espírito de equipe
Muitas das dinâmicas que contribuem para o desenvolvimento do protagonismo do aluno são realizadas em equipe. Os times pensam juntos em formas de solucionar os problemas, criar trabalhos criativos e elaborar ações. O potencial de cada um complementa o do outro, contribuindo para o resultado final. Nesse processo, os estudantes trocam informações, aprendem uns com os outros e desenvolvem habilidades sociais e de liderança.
A atividade recria o que acontece na vida, pois nas empresas os times de trabalho precisam unir esforços para a busca de soluções. Possuir habilidades sociais, então, acaba sendo de suma importância para o sucesso das tarefas. Outro ponto crucial para o êxito é a liderança das equipes, competência que pode ser desenvolvida desde cedo, e contemplada nas dinâmicas de grupos nas escolas.
Como começo a introduzir esse conceito em sala de aula?
Conseguiu captar as vantagens do conceito de incentivar o protagonismo nos seus alunos? Viu como o aprendizado ganha com isso? Então agora vamos deixar de teoria e vamos ver o que é preciso para colocar a ideia em prática! Vou te dar alguns insights aqui para começar, mas depois você precisa ir mais além, combinado? Então vamos lá!
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Ouvir e aplicar ideias trazidas pelos alunos
O primeiro passo para desenvolver o protagonismo nos seus estudantes é ouvi-los. Peça que deem ideias para você trazer para sala de aula, sugestões de formatos para trabalhar o conteúdo, veja tecnologias e materiais que eles sentem falta e que poderiam agregar, valorize as ideias deles!
Você pode até revirar os olhos para a minha sugestão e pensar: “não estudei X anos para pedir sugestões de como ensinar para os meus alunos”. Mas saiba que esse pensamento reflete a forma antiga se fazer educação, pois hoje já há um entendimento de que o estudante agrega sim, e de que a informação que ele traz na bagagem deve ser valorizada. Que tal fazer uma tentativa então?
Levante as sugestões e aplique as que forem viáveis. Assim, os estudantes verão ideias que eles mesmos sugeriram sendo postas em prática durante as aulas, e se sentirão motivados com o conteúdo. Aposto com você que o resultado superará as expectativas!
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Instigar a investigação e o debate
Que tal trocar o monólogo pelo debate? Se o seu objetivo é trabalhar o conceito de aluno protagonista, é preciso dar voz aos estudantes! O objetivo é que os dois lados aprendam, tanto os alunos quanto os professores, em uma via de mão dupla.
Você pode fazer isso informando previamente aos alunos o conteúdo que será trabalhado na próxima aula, e pedindo que eles pesquisem sobre o assunto na internet. Depois, construa a aula coletivamente com seus alunos, agregando as informações que eles trouxeram, discutindo o assunto.
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Abrir espaços para que os alunos se tornem multiplicadores de conhecimento
Outra boa ideia para trabalhar o conceito de aluno protagonista é a abertura de espaços em aula para que o estudante saia da platéia e vá para o palco, ou seja, o lugar normalmente ocupado por você, professor. Para isso, dê temas a eles, ou peça que eles escolham um assunto, e que elaborem uma aula sobre isso, a ser ministrada de forma individual. Essa “aula” não precisa ocupar todo o tempo de uma aula normal, pode durar entre 10 e 20 minutos, mas a ideia é que o estudante, durante um determinado tempo, seja o professor da turma.
Uma dinâmica assim trabalharia com várias questões: responsabilidade e autonomia do aluno na elaboração da própria aula, criatividade (visto que a aula elaborada por ele não precisa ser nos moldes tradicionais), liderança, habilidades de oratória e o próprio aprendizado em si (o aluno teria que estudar bastante para dominar o conteúdo). Viu quanto coisa uma única atividade pode ensinar?
Ao final da aula ministrada pelo aluno, o ideal é que seja aberto um espaço para debate sobre o assunto, onde todos – estudantes e professor – agreguem mais informações e discutam sobre o que foi ensinado. Ao final de tudo, cada aluno terá um conhecimento bem fixado sobre o assunto que abordou, e terá se interessado mais também pelo conteúdo das aulas dos colegas, já que essa situação atípica tem o potencial de criar um canal de identificação entre eles.
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Criar dinâmicas que deem autonomia aos estudantes para a resolução de problemas
Aqui vai mais uma ideia: crie um problema para ser resolvido, mas deixe que o aluno escolha o caminho que preferir para chegar na solução. Não entregue a ele o “COMO”, deixe que ele o encontre pelos meios que a criatividade o guiar.
Por exemplo: você abordou o tema “Leis de Newton” em uma aula de física, e quer que o aluno demonstre o que aprendeu. Deixe então que ele invente um experimento para mostrar a aplicação de uma lei, mas não passe a ideia pronta. Ele terá que pensar mais, pesquisar, testar, explorar a criatividade, e nesse processo, o aprendizado virá.
Esse tipo de dinâmica, de deixar o aluno correr atrás da solução, pode ser aplicada a qualquer disciplina. Quanto mais abertas forem as possibilidades de criação do estudante, mais a criatividade irá aflorar, bem como a autonomia e o sentimento de protagonismo.
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