Mudança é uma palavra que assusta. Quando descobrimos que precisamos fazer diferente algo que já dominávamos, muitas vezes a insegurança bate. Seja sincero, aposto que até você sentiu um certo friozinho na barriga quando, lá em 2015, surgiu a primeira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)! Quando a redação final foi aprovada em 2017 para o ensino infantil e fundamental, e em 2018 para o ensino médio, a mudança se tornou uma certeza, mas ainda havia algum tempo para a adaptação, e isso foi reconfortante, não é mesmo? Acontece que agora o que era futuro é presente, e adequar-se é imprescindível!
Calma, não há motivo para pânico. Tá certo que a Base Nacional Comum Curricular é um documento de quase 600 páginas, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. Vamos destrinchá-la para você e te explicar o que é que muda.
Informações gerais sobre a Base Nacional Comum Curricular
Vamos começar pelo começo. A sua escola é de ensino infantil, fundamental ou médio? Então a Base Nacional Comum Curricular se aplica a ela sim. É particular? Continua se aplicando. A BNCC vale tanto para a rede pública quanto privada, ou seja, não tem escapatória!
A base é uma referência nacional obrigatória, e as escolas devem elaborar ou adequar currículos e propostas pedagógicas a ela, inclusive as instituições que fazem parte de estados ou municípios que desenvolveram currículos próprios.
Agora se você está preocupado que a Base Nacional Comum Curricular tire a autonomia dos professores, impedindo que eles inovem e façam aulas diferenciadas, pode ficar bem tranquilo. A BNCC estabelece um objetivo de chegada para o aluno, especifica o que se espera que ele aprenda, mas não diz o “como”. O professor continua tendo liberdade para montar as aulas, só é preciso que o conteúdo esteja alinhado ao novo currículo.
Para que os educadores possam absorver as mudanças, deverão participar de formações continuadas. Elas têm o objetivo de esclarecer o papel da BNCC no sistema educacional brasileiro e o que é preciso para que os professores fiquem em consonância com as orientações presentes no documento.
As avaliações nacionais também entrarão no processo de mudança. As provas do Enem e do Brasil/Saeb serão revistas de acordo com a Base Nacional Comum Curricular e terão o envolvimento de gestores municipais e estaduais de instituições de ensino e de pesquisa na elaboração.
Vantagens da BNCC
Quer conhecer algumas vantagens da BNCC? Vamos lá:
Melhoria da educação para todos
A Base Nacional Comum Curricular é o resultado de um processo democrático que envolveu contribuições de toda a sociedade. A jornada que percorreu – desde sua primeira versão em 2015 até o texto final aprovado em 2017 – englobou diversas etapas: consultas públicas abertas na internet; seminários em todas as unidades federativas do país; audiências públicas e milhares de contribuições de professores. Ou seja, a redação final é um reflexo do que a sociedade espera da escola.
Com isso, busca-se uma evolução na qualidade do ensino para todos, com igualdade e equidade. A escola deverá fornecer as ferramentas de que o aluno necessita para enfrentar os desafios do mundo atual, e formá-lo não apenas para o mercado de trabalho, mas também para o pleno exercício da cidadania.
Transferências
Sabe quando um aluno chega transferido de uma outra escola no meio do ano? Geralmente ele passa por um bom período de adaptação, não é verdade? Não são só os colegas que são diferentes, muitas vezes o estudante tem dificuldades com os próprios conteúdos ministrados. É comum que ache que são “mais difíceis”, e que sinta que está atrasado.
Com a Base Nacional Comum Curricular, a adaptação não será mais tão brusca. As propostas pedagógicas terão objetivos alinhados, estabelecendo de forma clara o que o estudante deve aprender, então ele poderá adaptar-se com mais facilidade à outra instituição de ensino.
Autonomia do aluno
A BNCC, no tocante ao ensino médio, dará a possibilidade de o estudante escolher em que áreas do conhecimento deseja se aprofundar. Ele poderá, por exemplo, optar por uma formação técnica e profissionalizante que ajudará a sua inserção no mercado de trabalho.
Competências da Base Nacional Comum Curricular
A Base Nacional Comum Curricular estabelece 10 competências, que são conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que devem ser estimulados para a resolução de questões complexas da vida cotidiana e o pleno exercício da cidadania e do trabalho. O objetivo é que essas competências afirmem valores e estimulem ações que contribuam para a transformação da sociedade, buscando que seja justa, humana e voltada para a preservação da natureza.
Confira as competências:
1 – Conhecimento
Essa competência trata do uso do conhecimento geral, seja ele histórico, científico, cultural, social ou digital. Ela deve permitir que o mundo seja compreendido em um aprendizado contínuo, para que o estudante possa atuar colaborativamente na construção de uma sociedade mais justa.
2 – Pensamento científico, crítico e criativo
Busca desenvolver o senso crítico, a criatividade, a curiosidade, a autonomia e a capacidade de discernimento. Estimula o aluno a questionar, a interpretar, a investigar causas, a testar hipóteses e a fazer deduções lógicas.
3 – Repertório cultural
É a competência que visa a construção da identidade do estudante, habilitando-o a compreender a própria cultura e a de outros povos e incentivando-o a valorizar e a criar arte e cultura.
4 – Comunicação
Refere-se ao uso de diferentes linguagens para que o estudante tenha a capacidade de entender o mundo ao redor e se fazer entender também. Essa competência passa inclusive pela questão de linguagens tecnológicas, algo que já é uma realidade do nosso dia a dia.
5 – Cultura digital
Visa habilitar o aluno para a compreensão e o uso de tecnologias de maneira ética, permitindo que busque informações, resolva problemas e construa conhecimento. Passa por diversas disciplinas, da matemática à linguística.
6 – Trabalho e projeto de vida
Permite que o estudante possa planejar o seu projeto de vida e trabalho, usando todos os conhecimentos adquiridos para a tomada de decisões com liberdade e responsabilidade, tornando-se o autor da própria história.
7 – Argumentação
Desenvolve a capacidade argumentativa, permitindo que o aluno tenha a habilidade de buscar fatos e evidências sólidas para embasar ideias e pontos de vista, sempre tendo em mente a ética e a consciência ambiental.
8 – Autoconhecimento e autocuidado
Objetiva tornar o estudante capaz de conhecer a si próprio, apreciar-se, entender as próprias emoções e saber como manter-se saudável tanto física quanto mentalmente.
9 – Empatia e cooperação
Essa competência diz respeito ao aprendizado da não-violência. Ele ocorre por meio do estímulo à empatia, da construção de um sentimento colaborativo, da valorização da diversidade, do combate ao preconceito de qualquer natureza, do respeito mútuo e da busca pela resolução de conflitos.
10 – Responsabilidade e cidadania
A última das competências trata da responsabilidade social, e busca a formação do estudante como um cidadão consciente e responsável. Visa conscientizá-lo para que tome atitudes éticas, solidárias, democráticas, sustentáveis e inclusivas.
Agora você já tem uma boa noção do que trata a Base Nacional Comum Curricular e quais mudanças ela traz. Notou que as competências estão bem alinhadas com os quatro pilares da educação? Porque eu notei! Bem interessante essa evolução do ensino, não acha? Tudo na vida necessita evoluir, então não fique com medo, evolua também!
Caso deseje consultar o documento completo da BNCC, ele está disponível neste link.
Leia mais
– Os quatro pilares da educação e o papel da tecnologia
– A Nova Escola: desafios da educação na contemporaneidade