Cultura maker. Você talvez já tenha ouvido falar dela, e se prepare, pois daqui para frente irá ouvir cada vez mais. A tendência – que em alguns países já é uma prática bem incorporada – chega com força às instituições de ensino brasileiras, e quem ganha é o aprendizado.
O que é cultura maker?
A cultura maker é a ideia de que pessoas leigas podem criar, construir, restaurar e personalizar coisas que antes requeriam habilidades específicas e um investimento financeiro maior. Ela é impulsionada pela tecnologia, que no estágio atual já possibilita que os “meios” necessários para muitas das criações estejam ao alcance de qualquer um.
Uma pessoa sem habilidades manuais, por exemplo, consegue criar peças complexas fazendo apenas o projeto de design e usando uma impressora 3D para a confecção. Caso a pessoa também não tenha habilidades de design, pode baixar um projeto pronto da internet.
Outro exemplo é a edição de vídeos, que hoje pode ser feita por pessoas completamente leigas usando apenas um aplicativo para celular. Jogos computacionais, animações, entre outros projetos, também podem ser desenvolvidos por leigos, usando linguagens de programação gratuitas, como Scratch ou o Code.org. Os códigos de programação são transformados em linguagem visual, tornando o uso mais intuitivo.
A cultura maker não é algo completamente novo, é uma ideia que no passado já teve outras roupagens, como os movimentos “Arts & Crafts” e “Faça você mesmo”. As próprias práticas conhecidas como “gambiarras” também refletem a ideia de pessoas comuns criando soluções para problemas usando o que está à disposição.
A diferença do movimento maker é que nos dias atuais as possibilidades são maiores. A evolução tecnológica deu a qualquer um o poder de criar uma enorme gama de coisas – de simples a complexas – sem as habilidades específicas que em outros tempos essas criações requeriam.
Quais os benefícios para o aprendizado?
Agora que você já está mais “por dentro” do que é cultura maker, deve estar pensando: “bem bacana, mas o que isso agrega ao aprendizado em sala de aula?”. Saiba então que o benefício é maior do que você imagina! Quer ver?
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Criatividade
A criatividade se dá quando acumulamos um repertório de conhecimentos e emoções. Essas informações são combinadas e o nosso cérebro avalia a apropriação delas para diversas situações. Assim surge o “insight”, que é uma solução súbita para determinada questão.
Quando a cultura maker é trazida para a sala de aula, os alunos são estimulados a “pensar fora da caixa”, solucionando problemas, identificando oportunidades e criando produtos, sistemas, jogos, etc., a partir dos recursos que são disponibilizados a eles. Dessa forma, vão criando um repertório variado de conhecimentos e estimulando o cérebro a fazer correlações, a buscar por soluções dentro das informações armazenadas.
É importante que esse “exercício cerebral” seja incentivado pela escola, pois será útil aos estudantes em diversas situações ao longo da vida. A introdução da cultura maker em sala de aula permite isso.
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Fixação de conteúdos
Além de trabalhar a mente para o desenvolvimento da criatividade, a cultura maker em um ambiente de ensino também permite a melhor fixação de conteúdos didáticos específicos. Isso ocorre porque o aprendizado, nesse contexto, é ativo e não passivo. O estudante não aprende apenas observando, e sim colocando em prática e exercendo um papel protagonista.
A Pirâmide de Aprendizagem desenvolvida pelo psiquiatra William Glasser dá conta de que aprendemos apenas 10% quando lemos, 20% quando ouvimos e 30% quando vemos, mas quando fazemos, aprendemos 80%. Ou seja, a cultura maker favorece o aprendizado em qualquer disciplina em que for inserida.
Agora que você sabe disso, que tal desafiar os professores da sua escola a desenvolverem espaços dentro das aulas deles para que o conteúdo ensinado possa ser “posto em prática”? É possível até criar trabalhos makers interdisciplinares. Pense nisso!
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Trabalho em equipe
O desenvolvimento de habilidades sociais é outro dos benefícios de inserir a cultura maker em sala de aula. O professor pode dividir a turma em grupos e propor que desenvolvam projetos para solucionar determinado problema. Pode ser um robô, um sistema, uma peça impressa em impressora 3D, ou qualquer outro produto que seja criado por eles com a finalidade proposta. Atuando em conjunto para chegar à solução, o estudante aprende desde cedo uma habilidade que será fundamental em sua vida profissional: a capacidade de trabalhar em equipe.
É interessante que os grupos sejam formados por alunos com gostos e talentos diversificados, pois assim eles também acabam ensinando uns aos outros o que sabem, e unem os conhecimentos que têm para o projeto. E sabe a pirâmide do aprendizado que mencionei no tópico anterior? Ela diz que aprendemos 80% quando fazemos, mas há uma forma de aprendizado ainda maior: ensinar! Quando ensinamos, aprendemos 95%. Um grupo maker une as duas coisas – as pessoas fazem e ensinam ao mesmo tempo! Percebeu o ganho de aprendizagem que isso traz?
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Carreira profissional
Vivemos em uma época de profundos avanços tecnológicos. Muitas atividades que antigamente eram realizadas por pessoas, hoje estão automatizadas. Por isso, é importante que os estudantes que atualmente estão em sala de aula não sejam preparados para profissões que no futuro estarão obsoletas, e que consigam vislumbrar possibilidades além do emprego tradicional.
O conhecimento maker dá ao estudante bases para que no futuro possa empreender, observando oportunidades no mercado, inventando soluções e criando o próprio negócio. Se a criança desenvolver essas habilidades ao longo da vida estudantil, terá mais chances de sucesso nesse ramo quando for adulta.
Quais ferramentas posso disponibilizar aos alunos?
Convencido dos benefícios de trazer a cultura maker para a sala de aula? Eu aposto que sim! Afinal, qual a desvantagem? Os alunos só têm a ganhar, não é mesmo?
Para começar os trabalhos, você precisará de ferramentas, sejam físicas ou virtuais. Os instrumentos, claro, dependem dos objetivos da escola. Se a ideia é introduzir o aprendizado maker em todas as disciplinas, os materiais dependerão do conteúdo que será ministrado. Já se a escola preferir criar um espaço maker mais geral, pode disponibilizar ferramentas como:
A lista acima é só uma sugestão de alguns tipos de materiais que você pode disponibilizar. Tudo dependerá também do orçamento da escola, dos objetivos de aprendizagem e da idade dos alunos que irão participar (alguns materiais da lista não podem ser usados por crianças pequenas). Então use a lista deste post como base para você criar uma própria, alinhada com a realidade da sua escola.
Um bom local para buscar inspiração são as Fab Labs, redutos muito apreciados pelos makers. Se você mora em uma cidade que possui uma delas, vá fazer uma visitinha e observar. Aqui você encontra uma lista das cidades brasileiras com Fab Labs. Caso você não more perto de nenhuma, pesquise sobre elas pela internet.
Leia mais
– A Nova Escola: desafios da educação na contemporaneidade
– Os quatro pilares da educação e o papel da tecnologia