Quem espera aqui uma nova metodologia de ensino, um estudo científico revolucionário, uma nova forma de escola ou algo assim disruptivo, já deve administrar a expectativa, porque não se trata de nada disso. Se trata de algo antigo, na verdade algo que é natural do ser humano desde os tempos primordiais, algo que requer presença para ser bem-feito.
Quase todos conhecem o ditado africano que diz que “é preciso de uma aldeia inteira para educar uma criança”, e embora não vivamos mais em aldeias, sabemos o que isso significa: os pais, os professores, os amigos, os vizinhos, todos juntos influenciam na educação de uma criança.
Se a criança tem alguma dificuldade específica de aprendizagem, como uma dislexia, uma discalculia ou um TDAH, a aldeia precisa estar unida ainda mais e apoiá-la em seus desafios, para que ela possa viver na totalidade o seu potencial. Mas como unimos toda a aldeia para apoiar a aprendizagem de uma ou mais crianças?
No corre-corre da vida moderna, tão cheia de compromissos, trabalhos, atividades e outros afazeres, esquecemos que a aldeia só se forma quando seus membros conversam entre si, se comunicam de forma clara. Sim, nosso trunfo secreto não é tão secreto assim, a comunicação não é um mistério, mas por algum motivo alheio a nossa vontade, a boa comunicação tem seus caprichos.
É muito comum ouvirmos pais falando da escola ou escolas falando dos pais como quem fala do inimigo, claramente se esquecendo que ambos têm um objetivo comum: a aprendizagem do estudante. É com uma comunicação aberta e direta que juntos, pais e escola, podem identificar melhores caminhos, prever situações complicadas, se apoiar, contribuir e trabalhar em harmonia pelo estudante.
O que demanda tempo, gera atalhos!
Como não existe uma criança com dislexia igual a outra, cada uma tem seu próprio perfil de aprendizagem e a troca entre todos os envolvidos na educação dessa criança torna-se ainda mais fundamental. O mesmo vale para outros transtornos de aprendizagem e para quem tem alguma deficiência.
O estudo longitudinal realizado com mais de 10 mil estudantes na Inglaterra por Gillian Hampden-Thompson e publicado em 2016 conclui que uma forte relação entre família e escola, ponderada por uma satisfação da família em relação à escola, é um excelente preditor de realização futura por parte do estudante. Ou seja, podemos dizer que essa parceria alinhada praticamente garante um bom futuro para os nossos estudantes.
No Rio de Janeiro, um grupo chamado NudgeRio faz estudos experimentais para avaliar mudanças de comportamento por meio de pequenos incentivos (nudges) na forma de mensagens. Um desses experimentos, conduzidos pelo cientista José Moulin Netto, aconteceu no dia anterior ao simulado da prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica de 2019.
Na ocasião, milhares de pais do município receberam uma mesma mensagem de áudio. A voz era da própria secretária de educação, que identificou-se como “Talma, secretária de educação, professora e mãe de aluno de escola pública do município do Rio de Janeiro”. Seguindo um roteiro, ela incentivou os responsáveis a passarem para os filhos uma imagem de encorajamento em relação à prova. O resultado? O grupo que recebeu a mensagem aumentou em mais de 4% a nota dos alunos!
O fato é que se comunicar bem é uma mistura de arte e ciência. É extremamente humano se comunicar e a ciência tem mostrado e comprovado como fazer isso de forma mais assertiva. São métodos que logo a turma do marketing se apropria e que podemos também usar, não para vender produtos, e sim para gerar empatia, sensibilizar e criar laços.
A força da dupla escola-família unida se traduz em bons resultados de aprendizagem, e isso hoje é indiscutível e comprovado. É necessário se construir estratégias com intencionalidade pedagógica; utilizar ferramentas tecnológicas que facilitam e tornam o processo mais ágil; adequar a linguagem, tornando-a palatável e de fácil acesso a todos; e assim ir criando vínculos fortes de confiança e cooperação.
Mistério desfeito, é hora de se aprofundar nas boas técnicas de comunicação e criar um ambiente muito mais propício ao aprendizado para todos os estudantes, e principalmente para aqueles que precisam de um olhar ainda mais atento.
Leia mais
– Educação inclusiva: como trabalhar transtornos de aprendizagem
– A importância da família na escola e como isso favorece o desempenho do aluno