Em dois anos, o número de empresas de tecnologia voltadas à educação – as chamadas edtechs – teve um exponencial crescimento de 26%, chegando a um total de 566 em todo o país. O resultado apontado pelo estudo divulgado em abril pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), feito em parceria com o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), sugere um diagnóstico imediato: a obrigatoriedade do ensino remoto na pandemia criou demanda extra para esse mercado. Mas atribuir a expansão das edtechs unicamente ao contexto da pandemia de Covid-19 é prematuro.
Primeiramente, o crescimento não pode ser observado sem a perspectiva de que ainda há muito a se fazer no campo da inclusão digital do Brasil. Especialistas participantes da Brazil Conference at Harvard & MIT 2021, em 15 de abril, como noticiado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, sinalizaram que o impacto da pandemia na educação foi maior em países nos quais os processos de inclusão digital ainda estavam em etapas muito iniciais, desde a falta de acesso dos estudantes à internet até a própria estrutura das escolas, sejam elas públicas ou privadas.
Portanto, é possível notar que há um aquecimento do mercado, mas ainda existem limitações para absorver as demandas. Logo, não se pode pensar no crescimento apenas por um pretenso aumento da oferta sem o entendimento do ecossistema como um todo. Tal constatação se evidencia ainda mais ao voltarmos à pesquisa da Abstartups, a qual sinaliza que 31% das tecnologias desenvolvidas pelas edtechs brasileiras são pensadas para uso direto dos estudantes, justamente os stakeholders mais afetados pela falta de políticas de inclusão digital. Somente na rede pública, 40% dos alunos afirmaram não ter acesso regular à internet, segundo o relatório.
Outra razão para desmontar a tese de que unicamente a pandemia vitaminou o setor está no histórico de evolução das edtechs. Do total mapeado, 41,1% das empresas já atuam há mais de seis anos, enquanto 57,8% já estão em escala de maturidade de operação. No grupo focal de 208 empresas analisadas pela Abstartups, 64% apontaram para um crescimento no faturamento durante o último biênio, com 11% tendo ganhos de 50% ou mais em comparação com o período anterior. Resultados possíveis por uma razão: essas edtechs já estavam aptas a uma demanda urgente, com um rol de soluções disponíveis e consolidadas para atender a uma necessidade iminente.
É o caso, por exemplo, do “Estou Chegando”, funcionalidade implementada na Plataforma ClipEscola em 2016. Em um primeiro momento, a solução – voltada para monitorar o raio de distância de pais e responsáveis da escola, e assim possibilitar a organização e o escalonamento do horário de entrada e saída das aulas – objetivava amenizar o intenso trânsito no entorno das escolas em períodos específicos. Hoje, sua usabilidade primordial é evitar as aglomerações no retorno ao ensino presencial, resultado possível porque sua efetividade já havia sido testada e aceita por quase mil escolas no Brasil. O mesmo se aplica aos sistemas comunicação e atendimento digital entre pais, escolas e alunos; de sala de aula virtual; de assistência financeira; entre outros.
Se apresenta um cenário desafiador, para além da pandemia, no qual as até então inovações foram convertidas em necessidades. As edtechs estão prontas e no aguardo da expansão digital no país, principalmente porque o processo já iniciado é irreversível.
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